3 de dezembro de 2010




ORNITORRINCO


O ornitorrinco é considerado um dos animais mais estranhos do mundo. Os europeus o conheceram em 1798, quando marinheiros ingleses na Austrália enviaram para Londres a pele e uma gravura do bicho desconhecido. Recebida a encomenda, os cientistas britânicos pensaram inicialmente estar diante de uma fraude - para eles, alguém tinha costurado um bico de pato sobre o corpo de um animal semelhante a um castor. Quando o zoólogo George Shaw (1751-1813) o descreveu pela primeira vez, em 1799, declarou que era impossível não se ter dúvidas sobre à sua verdadeira natureza, enquanto colegas seus diziam acreditar que aquela pele poderia ter sido produzida por algum taxidermista asiático.

O ornitorrinco, mamífero natural da Austrália e da Tasmânia, ilha próxima ao litoral sudeste daquele país, forma com os equidnas (animal que se assemelha exteriormente a um ouriço, pois tem o corpo coberto de espinhos) o grupo dos monotremados, os únicos mamíferos ovíparos existentes. Hoje, apesar de encontrado apenas em uma faixa litorânea no leste da Austrália, tornou-se um símbolo desse país, aparecendo como mascote em competições e eventos, e em uma das faces da moeda de vinte centavos de dólar australiano. Do ornitorrinco já se disse que é uma verdadeira charada ambulante, pensamento confirmado em estudo publicado na revista científica "Nature", onde se diz que o animal é uma mistura genética de mamíferos, répteis e aves, pois sendo originário de um ramo inicial da família dos primeiros, tem pêlos e produz leite como os demais membros do grupo; mas põe ovos, como fazem os répteis e as aves.

O comprimento dos machos da espécie varia entre 30-40 centímetros (mais 13cm de cauda), sendo as fêmeas um pouco menores, enquanto seu peso pode chegar a até 2 quilos. A maturidade sexual desses animais é alcançada aos dois anos de vida, e esta, por sua vez, pode se estender até quinze anos. Seu corpo é achatado lateralmente e alongado, o que lhe favorece o deslocamento na água. Seus membros são curtos e fortes, cada um dos quatro pés possui cinco dedos providos de garras e ligados entre si por uma membrana, o que lhe permite movimentar-se sob a água como se estivesse remando apenas com as patas dianteiras (as traseiras são mantidas contra o corpo, não auxiliam na propulsão, mas usadas para mudar a direção do mergulho em combinação com a cauda, que se assemelha a de um castor).

O focinho do ornitorrinco mais parece o bico de um pato. Alongado e coberto por uma pele encouraçada, lisa, macia, úmida e sem pêlos, ele apresenta, em toda a sua superfície, poros com terminações nervosas sensitivas. As narinas também se abrem no focinho, na sua metade dorsal superior, e estão posicionadas lado a lado. Os olhos e as orelhas estão localizados em um sulco logo após o focinho, sulco esse fechado por uma pele quando o animal está submerso. O corpo e a cauda são cobertos por uma pelagem densa que conserva uma camada de ar isolante, essencial para manter o animal aquecido.

 Macho e fêmea se tornam sexualmente maduros no segundo ano de vida, mas algumas fêmeas só iniciam o período reprodutivo aos quatro anos, ou até mais tarde. A época de acasalamento ocorre somente uma vez por ano, entre os meses de julho e outubro, e depois que isso acontece ela constrói um ninho mais elaborado que o de descanso, forrando-o com folhas e outros materiais macios. Ao final da gestação a fêmea põe de um a três ovos pequenos (geralmente dois, de aspecto semelhante aos dos répteis e pouco mais arredondados que os das aves) que são incubados externamente em período de dez a doze dias.

Os filhotes recém-nascidos têm 18mm de comprimento, são cegos, pelados e se alimentam do leite produzido pela mãe durante um período que vai de três a quatro meses. Mas como ela não possui mamas, o alimento escorre através dos poros na pele e se acumula em sulcos existentes no abdome da fêmea, quando então são lambidos pelas crias. Durante esse tempo a fêmea só deixa o ninho para se alimentar, e mesmo assim por curtos períodos, logo regressando à toca para cuidar da prole. Por volta de quatro meses os filhotes começam a sair do buraco onde passaram a primeira fase da criação, prontos para iniciarem a caminhada em busca da vida própria.

Excelente mergulhador, o ornitorrinco, por ser carnívoro, alimenta-se de anelídeos (minhocas e sanguessugas), larvas de insetos aquáticos, camarões de água doce, girinos, caramujos, lagostins de água doce, e até mesmo pequenos peixes, que ele escava do leito de rios e lagos com seu focinho, ou captura enquanto nada, guardando-os nas bochechas durante a caçada, até que um número suficiente seja reunido ou quando é necessário respirar. Então ele volta à superfície para comê-los, e como não tem dentes, a mastigação é feita por placas córneas, servindo a areia engolida junto com o alimento como material abrasivo para ajudá-lo nesse trabalho de trituração. Como precisa ingerir diariamente cerca de 20% do seu peso, ele consome doze horas de cada dia na busca de alimentos que lhe garantam a sobrevivência. Cada mergulho pode durar, no máximo, até quarenta segundos, pois esse é o seu limite aeróbico.

Além do homem, o ornitorrinco tem como principais predadores as aves de rapina, serpentes, cães, gatos e raposas vermelhas. Estas últimas, introduzidas na Austrália para controlar a população de coelhos, diminuíram sensivelmente o número de ornitorrincos, embora isso ainda não os tenha colocado no rol dos animais em perigo de extinção.


fonte:FERNANDO KITZINGER DANNEMANN





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